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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Portugal

Ao chegar a Portugal passei a entender quais aspectos da minha decisão (de voltar) afetavam diretamente a minha vida. Um conhecimento gradual, que veio a mim, por meio de fragmentos de constatações e observações a que chegava, passo a passo.

A primeira, e mais óbvia, foi o urbanismo. Não que Portugal não possuísse sua própria beleza, apesar de que sua arquitetura, (do aeroporto em si) e seus monumentos (uns poucos que estavam destacados em fotos nas paredes do próprio aeroporto) me pareceram uma pálida sombra, perto de tudo aquilo que eu tinha visto, em Barcelona.

A segunda, foi a mudança de economia, e a terceira (automática à segunda), foi a língua.

Ocorreu-me, em função de outra constatação (a de que, na grande maioria das vezes, um impulso leva a uma estupidez) de que eu havia deixado o transformador do PC em outra mala, que me sobravam ainda três horas de espera e que o aeroporto de Lisboa apresentava tao poucas opções quanto o de Buenos Aires, nesse sentido. E ocorreu-me, por fim, que o preço de certos produtos, (apesar de Espanha e Portugal e meia Europa compartilharem a mesma moeda) era sensivelmente mais caro.

A idéia prática, para passar o tempo, era comprar uma revista, ou algo do gênero, que se pudesse ler. Porém, mesmo os livros, poucos, não me chamavam a atenção - mesmo Caim do Saramago (que depois eu descobri ser um livro excelente, e me odiei por isso) não me inspirou confiança.

Acabei me decidindo por um minúsculo bloco de notas (no qual escrevi este relato, em primeira instancia) de caríssimos 4,70 euros. Aproximei-me a caixa, e escolhendo bem as palavras, para, pela milésima vez não responder em castelhano o que me perguntavam em minha língua natal, pergunto a moça se eles têm uma caneta.

- A caneta é dez euros? - me responde a portuguesa.

Quê?!

- Mas se você quiser eu tenho um lápis por 2 euros.

- Pode ser - respondo, perplexo, apesar de sentir a dor de pagar 2 euros por um simples lápis.

Ao que, ela me estende uma lapiseira.

Eu a encaro, totalmente confuso. Então, quiçá percebendo essa fragilidade minha, ela dispara uma extensa frase, da qual eu não entendi uma única palavra sequer.

Estendo o dinheiro, pego a lapiseira, o troco. Agradeço, e me largo dali o mais rápido possível.

Instantaneamente, lembrei de uma música do Júpiter maçã que dizia "...nosso idioma é a mesma língua, mas meu amor, a gente junto, num rola!"

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