A cabeça clareia, e a idéia que me vem é nítida: Fugimos!
O descampado sossego por nós desenhado soa como um plano perfeito, escrito de ponto de vista unilateral (um monólogo, ausente de platéia).
Os versos recitados soam como uma aversão incrédula à realidade prejulgada pelo ator, sussurrados sem credibilidade alguma pela boca que se move quase em silêncio.
Fugimos! É a idéia clara no contexto.
Fugimos...
É surpreendente fácil confundir isto com uma troca de estilo. Passar da prosa à poesia, em suas mais diversas formas. Começar com um soneto e terminar sem rima, e chamar (por que não?) de liberdade artística.
Enganamo-nos! Nossa vaidade nos passou para trás... Cada letra tem sua fonética transparente em uma só palavra: Fugimos!!!
“Chame como quiser”, tento argumentar com austeridade,”Mas lidamos com algo incompreendido! E a isso nada mais posso chamar, senão: maturidade artística. O som, eu sei, sai da minha garganta, porém se transforma ao chocar-se em meus dentes. Afora isso, ao ganhar ar livre, já é outro... Não o reconheço... Não tenho o menor controle sobre ele...
Fugimos... Meu próprio engano não me ilude!
Nos primeiros quinze segundos de espetáculo, persiste a empolgação do começo. Alheio a isso o erro insiste em fazer sua trajetória rigorosa. O ator, ainda inexperiente quanto à platéia desta noite, demonstra sua falta de habilidade, e deixa escapar o momento de uma possível reação. Vira clichê enfim, e o relógio, amargurado com isso não pára.
As horas vão passando, cada ator com seu momento....
As cortinas vão fechando...
Fugimos...
PS:O texto acima foi inspirado numa reportagem sobre a crise em Madrid, que relatava, entre outras coisas, o desespero dos comerciantes em vender a preço de ninharia, os produtos e comidas pereciveis. O kilo da batata, segundo a reportagem, chegava a um absurdo de 0,10 centimos de euro. Formavam-se enormes filas para compra de tais produtos. Por isso, essa ideia de desperdicio de tempo, e de como empregamos o pouco - tempo - que temos, nos acomodando em nossas proprias atuações...
2 comentários:
Add teu blog nos blogs amigos do grupo mototóti.
Abraços querido e vamos nos ver logo.
Carlos
Valeu, Fera, tah add.
Aproveito aqui, para deixar os parabéns ao amigo, por esse trabalho extraordinario que é "O Vendedor de Palavras"...
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