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quarta-feira, 14 de maio de 2008

E Você?




A cabeça clareia, e a idéia que me vem é nítida: Fugimos!

O descampado sossego por nós desenhado soa como um plano perfeito, escrito de ponto de vista unilateral (um monólogo, ausente de platéia).

Os versos recitados soam como uma aversão incrédula à realidade prejulgada pelo ator, sussurrados sem credibilidade alguma pela boca que se move quase em silêncio.

Fugimos! É a idéia clara no contexto.

Fugimos...

É surpreendente fácil confundir isto com uma troca de estilo. Passar da prosa à poesia, em suas mais diversas formas. Começar com um soneto e terminar sem rima, e chamar (por que não?) de liberdade artística.

Enganamo-nos! Nossa vaidade nos passou para trás... Cada letra tem sua fonética transparente em uma só palavra: Fugimos!!!

Chame como quiser”, tento argumentar com austeridade,”Mas lidamos com algo incompreendido! E a isso nada mais posso chamar, senão: maturidade artística. O som, eu sei, sai da minha garganta, porém se transforma ao chocar-se em meus dentes. Afora isso, ao ganhar ar livre, já é outro... Não o reconheço... Não tenho o menor controle sobre ele...

Fugimos... Meu próprio engano não me ilude!

Nos primeiros quinze segundos de espetáculo, persiste a empolgação do começo. Alheio a isso o erro insiste em fazer sua trajetória rigorosa. O ator, ainda inexperiente quanto à platéia desta noite, demonstra sua falta de habilidade, e deixa escapar o momento de uma possível reação. Vira clichê enfim, e o relógio, amargurado com isso não pára.

As horas vão passando, cada ator com seu momento....

As cortinas vão fechando...

Fugimos...



PS:O texto acima foi inspirado numa reportagem sobre a crise em Madrid, que relatava, entre outras coisas, o desespero dos comerciantes em vender a preço de ninharia, os produtos e comidas pereciveis. O kilo da batata, segundo a reportagem, chegava a um absurdo de 0,10 centimos de euro. Formavam-se enormes filas para compra de tais produtos. Por isso, essa ideia de desperdicio de tempo, e de como empregamos o pouco - tempo - que temos, nos acomodando em nossas proprias atuações...

2 comentários:

Teatro Mototóti disse...

Add teu blog nos blogs amigos do grupo mototóti.

Abraços querido e vamos nos ver logo.

Carlos

Rafaelplm disse...

Valeu, Fera, tah add.
Aproveito aqui, para deixar os parabéns ao amigo, por esse trabalho extraordinario que é "O Vendedor de Palavras"...